sábado, 20 de abril de 2013

QUANDO EU FAÇO, DEUS DEIXA DE SER; QUANDO EU SOU, DEUS FAZ
(SANTIDADE VOCACIONAL)


"Minha primeira descoberta em Dotoievski foi o príncipe Myshkin, 
"O Idiota". Eu estava procurando algo que mais tarde entendi ser a "santidade vocacional", e o príncipe ampliou minha imaginação a fim de entender o que isso vinha a ser.
Como posso fazer a diferença? O mundo está uma bagunça; as pessoas estão vivendo em constante empobrecimento espiritual, penúria moral e confusão material. Precisa-se fazer uma revisão geral. Alguém precisa fazer algo. Eu preciso fazer algo. Onde é que começo?
O que significa representar o Reino de Deus numa cultura devotada ao Reino do Eu? Como é que palavras delicadas, vulneráveis e frágeis sobrevivem à competição com o dinheiro, armas e motoniveladoras? Como é que pastores, que não fazem nada acontecer, mantêm uma identidade robusta numa sociedade que paga muito dinheiro a cantores de música sertaneja, traficantes de drogas e barões do petróleo? Vi ao meu redor homens e mulheres, pastores, criando uma identidade vocacional a partir de modelos oferecidos pelos "principados e potestades". Todos os modelos oferecidos enfatizavam o poder (fazer as coisas acontecerem) e imagem (parecer importante). Mas nenhum deles parecia congruente com o chamado que eu sentia formar-se dentro de mim. Mas, do ponto de vista vocacional, qual era a aparência dessa aspiração não-formulada? A contribuição de Dotoievski para minha jornada foi o príncipe Myshkin.
O príncipe Myshkin dá a todos que o encontram a impressão de ser simples e ingênuo. Dá a impressão de não saber como o mundo funciona. As pessoas acham que ele não tem nenhuma experiência nas complexidades da sociedade. Ele é inocente no que diz respeito ao "mundo real". Um idiota." (transcrito)
Eu, Elaine, já me senti uma idiota. Então eu volto ao título do meu artigo. Trocadilho difícil de entender. Hoje, com a internet, redes sociais, etc. está muito fácil de mostrar quem está fazendo mais ou melhor. Isto tem gerado até frustração em alguns que sempre olham para a grama do outro como se estivesse mais verde.
Confesso que já fiz isto. Teve um tempo que fiz álbuns de fotos e abri páginas para mostrar "o que Deus estava fazendo". Tiramos muitas fotos, fizemos muitos álbuns. Acho que até certo ponto não tem nada de errado com isto. Mas um dia Deus começou a falar comigo. Qual é a verdadeira motivação? O que está por detrás disto? Quando eu faço coisas para postar fotos na internet eu recebo elogios, ou críticas ou comparações. Eu recebo. É a cultura do Reino do Eu. E Deus deixa de ser glorificado, deixa de ser exaltado, deixa de ser elogiado. 
"As pessoas nas nossas congregações estão, na verdade, procurando ídolos. Entram nas nossas igrejas com a mesma mentalidade que vão ao shopping, para comprar algo que satisfaça um apetite ou desejo. João Calvino via o coração humano como uma inexorável e eficiente fábrica de ídolos. Congregações comumente vêem o pastor como o responsável pelo controle de qualidade da fábrica. No momento em que aceitamos a posição, todavia, desertamos de nossa vocação. As pessoas que se reúnem em nossas congregações querem ajuda numa hora de dificuldade; querem um sentido e significado para as empreitadas da vida. Elas querem Deus, de certa forma, mas certamente não um "Deus zeloso", não o "Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo". Em geral, querem ser seus próprios deuses e ter o controle, mas precisam de ídolos assistentes para as horas difíceis, e é o pastor que lhes mostra como fazer isto. Com o desenvolvimento das linhas de produção, estamos fabricando estes ídolos em grandes quantidades, em cores variadas e em formatos que agradem a todos os gostos. A percepção teológica de Calvino somada à tecnologia de Henry Ford é igual a Religião Norte-americana e também Sul-americana (grifo meu). Quando se vive no país do bezerro de ouro como vivemos, é fácil e atraente ser um pastor bem-sucedido como Arão. (Transcrito).
O Senhor tem falado muito comigo sobre o ser. Moisés ficou aqueles tantos de dias no monte apenas sendo;  Ninguém sabia o que ele estava fazendo. Quando eu sou ninguém fica sabendo. Quando eu sou mulher de oração, que ora sozinha no quarto, que jejua em silêncio; que se cala quando tinha muitas coisas à dizer, ninguém vê, ninguém sabe, ninguém imagina. A santidade vocacional é muito diferente da "santidade do fazer". A santidade vocacional tráz glória somente a Deus. A askese individual nos leva de volta à nossa vocação e chamado. Escutar uma pessoa contar sua história, cuidar das vidas e ajudá-las nas suas angústias, abraçar e beijar áqueles dos quais muitos fogem, ir à uma festinha de aniversário de alguém que está completando 97 anos e celebrar a vida agradecendo a Deus, visitar um moribundo no hospital, levar alguém doente tantas vezes que precisar, orar por alguém, chorar com alguém, chorar por alguém; estar todos os dias na sua Nínive nos leva à santidade de nossa vocação e chamado e nos livra de uma carreira brilhante de Társis. 

(Partes transcrito do livro Á Sombra da Planta Imprevisível - Eugene H. Peterson - páginas 54, 55, 83, 84)

Um abraço
Prª Elaine Teobaldo

sexta-feira, 12 de abril de 2013

PASTORES EM EXTINÇÃO

Quando estava fazendo o meu estágio no ano de 1990, soube da trágica notícia que abalou a cidade de Gramado. Um pastor se suicidou. Na época minha amiga fazia seu estágio nesta cidade e compartilhou a gravidade do caso. Eu era muito jovem e nem sabia o que pensar! Mas pensei que de certa forma foi coisa do diabo.

Talvez eu não estivesse errada, pois hoje vejo o quanto o diabo investe para tirar pastores da frente de rebanhos. E quem perde é o reino de Deus, pois Deus constituiu pastores dentre os cinco ministérios. Tirem os apóstolos, trabalhos deixam de ser abertos. Tirem os profetas, a nação perece! Tirem os evangelistas, as conversões acabam. Tirem os pastores e mestres, o povo deixa de ser cuidado e deixa de crescer!

Satanás tem investido pesado para destruir os pastores e suas famílias. Soube de um pastor que ensinou muita gente, discipulou muitos jovens, dentre os quais muitos se tornaram pastores; fez muitos noivados, abençoou muitos casamentos, apresentou muitos filhos, celebrou muitas ceias, sepultou muitos queridos irmãos. Um dia Deus levou-o para um país distante. Trabalhou com afinco para o Senhor. No meio da batalha ficou muito doente. Foi hospitalizado. Sua esposa ia visitá-lo e numa noite quando voltava para casa, foi assaltada, abusada sexualmente, e apanhou muito. Sozinha nesta situação, num país distante, longe de familiares e amigos, não suportou a pressão e voltou. Um filho ou filha (não lembro com precisão) do casal quando soube desta tragédia tentou suicidar-se. Chegaram à tempo de salvar. Mas a dor foi tão grande que hoje é um adulto que não ama a Deus. O pastor se recuperou desta derrota e continuou seu ministério, mas seu casamento acabou, seus filhos se desviaram e sua ex-esposa hoje sofre com depressão e tem problemas com drogas! Não acredita?! Isto existe!

Quando minhas meninas mais velhas eram pequenas, saímos da igreja e fomos dar umas viajadas na maionese. Ficamos um tempo num lugar, não deu nada certo. Fomos acolhidos em outro lugar e enquanto estávamos lá fomos visitar um casal de amigos que pastoreavam em uma cidade  perto. Chegando lá, naqueles dias a cidade estava abalada. Pelo menos os crentes daquela cidade estavam. A esposa de um pastor havia se suicidado, ligando uma serra elétrica e passando seu pescoço nela, sua cabeça foi para um lado, seu corpo para outro. Coisa do diabo? Não sei.

No ano passado, (2012) eu soube de dois pastores que quase perderam filhos para o suicídio. Coincidência? Não sei. Fiquei sabendo destes dois episódios porque são pessoas que eu conheço bem, mas e quantos outros podem ter ocorrido e nem ficamos sabendo?

Num destes casos, recebi permissão para descrever aqui. Sua filha adolescente. Os pais totalmente envolvidos com a obra de Deus. Quase nunca tiraram férias porque não se permitiam o luxo de sair e deixar o rebanho. Esta criança já apresentava alguns problemas e havia alguns anos atrás foi aconselhado procurar um profissional; os pais não o fizeram achando que tudo ia passar. Mas não passou. Só piorou. Até que ela começou a gritar por socorro da maneira que um adolescente faz. Primeiro se isolou completamente de tudo e de todos. Depois foi ao outro extremo de procurar amizades impróprias. Atos de rebelião e revolta passou a ser o cotidiano desta família. Os pais tentaram ignorar os sinais, lidando da maneira que sabiam fazer: orando, jejuando, ministrando, disciplinando, batendo. Até que um dia orando no quarto da menina para Deus mostrar o que estava acontecendo e o quê fazer, Deus mostrou que ela tinha um desenho com um auto-retrato se enforcando. Os pais pegaram aquele desenho e ficaram um pouco assustados e com isto passaram a observar melhor. Num dia de crise terrível, levaram à um psiquiatra. Após um longo tempo da menina só com a médica, a mãe foi chamada e quando entrou na sala notou que a médica havia chorado. E Ela falou: Mãe, está acontecendo uma coisa muito séria! Agora muito abraço, muito beijo, muita paciência. E também acrescentou muitos exames, muitos remédios, muitas terapias...
Você pode pensar: Isto é manipulação de adolescente! Os pais também pensavam assim e quase, quase mesmo perderam sua filha para o suicídio! Naqueles mesmos dias de 2012 saiu em rede nacional um menino de classe média se joga do 5º andar de uma escola particular no Rio de Janeiro. Manipulação de adolescente? Poderia ser, mas e se não fosse?! Neste tempo difícil, os pais me contaram, não havia ninguém para ajudar; ninguém da igreja apareceu para orar com eles. A família toda sofreu, quase se desmantelou. A mãe teve que gastar mais tempo dando atenção e carinho para os filhos e acompanhando sua filha no tratamento. O pai ficou praticamente sozinho na igreja. Sofreram muito. A família sofreu. A igreja sofreu. Satanás não conseguiu destruir esta família, mas quase destruiu a igreja. Não houve discernimento, não houve batalha espiritual, não houve ajuda para a família deste pastor. Houve muita acusação, muito julgamento, muito falar mal, facção e dissolvição. Até onde eu sei, estes pastores não desistiram do ministério. O diabo investiu, mas perdeu.
E no outro caso, não era uma criança ou adolescente, já era uma filha adulta que foi muito além, ela tentou o suicídio (isto na mesma cidade!) E voces acham que o diabo não quer tirar os pastores do ministério?

Não escrevi isto para desestimular ninguém, nem apelar para as emoções de ninguém. Mas para fazer um apelo: Orem pelos seus pastores, sejam eles quem forem, mas ore mesmo! Ore mais pelos pastores. Eles precisam de oração, precisam de cuidado, precisam de carinho. Os pastores são gente! Os pastores têm famílias tão normais como as famílias dos outros. Não fique só olhando os defeitos e criticando teu pastor, ore por ele; porque ele pode ter todos os defeitos que você não tem, mas pelo menos uma coisa os pastores têm de bom: obedeceram o chamado e vivem e morrem por isto!

Um abraço.
Prª Elaine Teobaldo


sexta-feira, 5 de abril de 2013

NINGUÉM KISS QUE FOSSE ASSIM

Chegando naquela rua, três meses depois da tragédia, pedi que o motorista parasse a van porque queria que os adolescentes e jovens vissem a realidade que até então só tinham visto pelos noticiários.

Quando pisei em frente aquele memorial vi quão pequeno e quão horrível. Meu coração imediatamente ficou apertado, tão apertado quanto estava aquele local na noite da tragédia, é como se um pouquinho da dor de cada familiar entrou para o meu coração! Não pude conter o choro! Minha filha mais velha chorou compulsivamente também. Vi que minha outra filha olhava fixamente para cada foto e cada detalhe e cada mensagem com um olhar de dor, mas não chorou.
Pastor Lucinho já estava lá com outros crentes quando chegamos, depois de nós foram chegando mais e mais jovens. Logo a congregação estava formada por irmãos de vários lugares, sem se conhecer, mas com o mesmo SANGUE. Fizemos um culto ao Deus verdadeiro! Cantamos, adoramos, oramos e profetizamos. Pastor Lucinho orou para que ali se transforme num lugar de vida.

Fiquei imaginando que muitos jovens estavam ali dentro com seus ídolos, com suas crenças, muitos talvez enganados pelo deus deste século que cega o entendimento dos incrédulos. Talvez alguns buscando encontrar um Deus, ou algo que preencha o vazio da alma, que nada, nem ninguém, nem conhecimento humano pode preencher. Talvez alguns já tivéssem tido uma experiência com Deus, mas por serem livres para esolher, escolheram não seguí-lo...

Ninguém quis que fosse assim porque Jesus veio para dar vida e vida em abundância. 

Um abraço
Pastora Elaine